21/05/2022

O filho mais velho

 Então já não era mais só eu...

O colinho onde eu amava adormecer agora tinha prioridade, porque meu irmão tinha que mamar e eu já era grandinho.

A família chegava em casa e eu já não era mais o centro das atenções. Eu tinha novidades também, mas o que eu falava não era mais importante. "Olha que lindo, o bebê sorriu pra mim", "Ah meu Deus, ele está tão esperto, já quer levar os brinquedos na boca", "Ele está dando os primeiros passinhos".

Mamãe me disse que eu era importante também. Mas que a gente tinha que cuidar do bebê porque ele é muito pequenininho.

(...)

Hoje foi o meu primeiro dia na escola. Eu não queria ficar lá sozinho. Mamãe está em casa com o meu irmão. Minha professora é legal, até fiz alguns amigos, mas queria ficar com minha mãe.

Mamãe veio me buscar. Eu estava com tanta saudade que queria ficar feliz, mas não consigo parar de chorar. Estou aliviado porque ela está aqui.

Mamãe diz que tenho que parar de chorar, eu já sou grande, tenho que ser maduro, mas eu só tenho 4 anos. Ela diz que estou fazendo birra. Eu só queria que ela me pegasse no colo.

Os adultos da família dizem que minha mãe está me mimando, que assim eu não vou aprender. Eles falam pra ela me bater. Eu não sei porque eles querem que ela me machuque. Será que não me amam?

(...)

Hoje é dia de ver minha avó. Eu estou animado para falar pra ela tudo que aprendi na escolinha mas ela não quer ouvir. Estou tentando mostrar, mas ela mandou eu ficar quieto e assistir televisão. Ela quer ver o dentinho novo que brotou na boca do maninho. Será que não sou interessante? Eu não quero assistir desenho. Tem uma árvore grande lá fora e tem folhas de todas as cores no chão, eu quero explorar. Vi muitas pedrinhas diferentes, eu poderia fazer uma coleção. Ouvi a vovó falar para a mamãe me levar ao médico porque devo ter algum problema que não me deixa parar quieto. Eu não quero ir ao médico, eu quero brincar.


Essa história é baseada em fatos reais e em diversos atendimentos que já tive. Por vezes o nascimento do irmão mais novo pode ser um trauma para o irmão mais velho - não que seja algo ruim - mas trauma no sentido de perder a vez, perder o posto de filho único e de centro das atenções, mesmo que por vezes os pais façam todo o possível para que o filho mais velho se sinta parte do processo.

O que podemos fazer para amenizar isso?

Precisa ser uma ação de toda a família a inclusão do filho mais velho. Lembrar que toda idade tem seus medos, descobertas e aprendizados, que precisam ser valorizados. Valorizar as queixas de todos os filhos, olhar nos olhos quando eles precisam se comunicar, ouvir o que eles querem nos dizer e falar com cuidado o que eles precisam compreender.

Entender que o filho mais velho não deixou de ser criança. Que ele pode ajudar em algumas coisas mas não deve ser sobrecarregado com responsabilidades.

Por fim, amor nunca é de mais! Eles precisam entender que são amados independente do que mais esteja acontecendo ao redor.


Vamos interagir??

Se você for irmão mais velho, me conta como se sentiu quando o mais novo chegou.

Se você for mãe ou pai de 2 ou mais, me conta como foi o processo de adaptação do filho mais velho com a chegada do mais novo.

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